Liberdade de expressão ou liberdade de pressão?
“Liberdade de pressão”
Da autoria de Rodrigo de Matos, o cartoon intitulado “Liberdade de pressão” retrata metaforicamente a pressão laboral e o constante abuso de poder exercidos sobre a classe trabalhadora da imprensa.
Efetivamente, partindo da análise desta notável ilustração, observa-se um trabalhador, provavelmente jornalista, ajoelhado, a escrever, desesperadamente, um artigo, enquanto é pressionado por um dedo indicador, de dimensões muito superiores às suas. É notório que esta disparidade dimensional entre a mão e o jornalista nos leva a concluir que o indivíduo gigante e anónimo representa não só os chefes de imprensa, mas também toda a sociedade, causadora de grande pressão sobre todo o tipo de classes trabalhadoras, neste caso, os jornalistas.
Além disso, observando agora a configuração cromática do cartoon, percebemos que predominam cores melancólicas e pesadas, sobressaindo o cinzento escuro do braço gigante. Porém, um detalhe interessante é o facto de a sombra da personagem pressionada ser de um tom quase azulado, podendo representar o contraste existente entre aquilo que o jornalista é forçado a escrever (cinza escuro) e o que este realmente deseja escrever (azul claro). Na verdade, muitas vezes, os jornalistas são forçados a abordar, em muito pouco tempo, todo o tipo de assuntos, tal como sugere o movimento desesperado da caneta e o suor da personagem.
Do meu ponto de vista, Rodrigo de Matos conseguiu, magistralmente, representar um dos problemas mais atuais enfrentados pelos jornalistas de todo o mundo, pois, muitas vezes, são obrigados a escrever sobre temas que não lhes trazem conforto.