O cartoon apresentado é da autoria de Miguel Morales Madrigal e evidencia claramente a exploração humana que encontramos nos dias de hoje.
Com efeito, na imagem, destacam-se seis homens, que aparentam possuir profissões distintas. O primeiro, à esquerda, está ajoelhado e trabalha como pedreiro. Os três que se seguem são, provavelmente, donos de empresas ou secretários. Já o indivíduo de óculos, o quinto da fila, poderá ser o presidente e o que está ao seu lado direito aparenta ser proprietário de um banco. Curiosamente, todos os homens têm a mão colocada no bolso do que se encontra à sua frente. Todavia, o último homem, à direita, carrega na mão um saco com dinheiro que irá entregar ao banco, pois o tal saco está identificado com a designação “Bank”. Com esta representação, o autor pretende destacar o facto de os homens estarem sempre dependentes do dinheiro dos outros, e de esse dinheiro, proveniente do trabalho e mérito próprio, ir sempre “parar à mão” dos mais poderosos. Logo, observa-se a crítica à antropofagia social, dado que os humanos estão continuadamente a explorarem-se uns aos outros e, para além disso, é habitual serem os homens com mais poder, como o banqueiro e o presidente, a explorarem os de menor poder, como, por exemplo, o pedreiro.
No Sermão de Santo António, pregado por Padre António Vieira no século XVII, conseguimos evidenciar esta situação, no capítulo IV, no qual o pregador repreende o auditório de forma generalizada. Nesse capítulo, Vieira critica a ictiofagia, relacionando-a por conta do contexto alegórico, com o vício dos homens de se explorarem continuadamente. Assim, podemos destacar a intemporalidade do discurso do orador, visto que são temas ainda presentes na nossa sociedade.
Em suma, verificamos que, com este cartoon, Miguel Madrigal pretende mostrar e retratar a antropofagia social, sendo este um tema igualmente abordado na obra de Padre António Vieira.