jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

(Re)Viver Abril – Palestra

     No âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, realizou-se no dia 29 de abril uma palestra subordinada ao tema (Re)Viver Abril, no Auditório Maria Ricardo, a qual contou com a presença dos alunos do 12º ano do curso de Línguas e Humanidades, dos alunos do 11º ano do Curso de Ciências Socioeconómicas e dos alunos do 11º ano do curso de Artes Visuais.

     Como palestrantes, convidámos o Dr. Alberto Martins, advogado e políticoportuguês, que foi eleito deputado em sucessivas legislaturas nas listas do Partido Socialista, tendo ainda exercido o cargo de Ministro da Justiça, entre 2009 e 2011; foi também presidente da Associação Académica de Coimbra no tempo do regime ditatorial do Estado Novo; publicou os livros Novos direitos do cidadão (1994) e Direito à cidadania (2000); e foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade em junho de 1999; o general Eduardo Teixeira, que tinha a patente de capitão e participou diretamente nos acontecimentos ligados à revolução; e ainda a Dr.ª Olívia Soares, antiga professora de História no Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, agora aposentada.

     Foi deveras interessante a explanação dos factos e sentimentos associados ao espoletar da crise académica de 69, história contada pelo protagonista, com especial destaque para o momento da visita do Presidente Américo Tomás para a inauguração do Departamento de Matemática, em Coimbra, e a célebre frase “Peço a palavra”. Este simples pedido levou a consequências e deu início a três meses de revolta estudantil que abalaram o marcelismo e levaram à prisão imediata do presidente da Associação de estudantes, o Dr. Alberto Martins, à perseguição aos estudantes, e ao desencadear da maior greve estudantil aos exames, o que implicava a perda de ano letivo (reprovação), a mobilização para a guerra no ultramar, bem como o fim de bolsas de estudo que garantiam o sustento de alguns alunos.

     Por sua vez, o general Eduardo Teixeira foi capitão de Abril e esteve presente no desencadear da Revolução do 25 de Abril, tendo comandado a coluna militar que saiu do Quartel de Tancos; posteriormente, entre outros cargos, foi general comandante na Região Militar do Norte, e exerceu funções no Supremo Quartel-General da NATO, na Bélgica; recebeu vários louvores, a Grã-Cruz da Medalha de Mérito Militar, de Grande Oficial da Ordem de Avis e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Por isso, foi interessante ouvi-lo a falar da importância do Movimento das Forças Armadas e o seu papel no Programa dos 3 D – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver, e relembrou que foi o MFA que impôs à Junta de Salvação Nacional o compromisso da realização de eleições livres, no prazo de um ano, para a Assembleia Constituinte. Afirmou que se não fosse a pressão do MFA, estas eleições não se teriam realizado, sendo que até hoje foram as eleições mais participadas, com 91,7% de votantes.

     A professora Olívia Soares, para além de explicitar quais eram as dificuldades da vida num regime de ditadura, com a ação dos informadores da PIDE/DGS na vida do quotidiano da população, ilustrou a sua exposição com exemplos da própria vida, tendo os seus pais emigrado para a França para poderem viver com dignidade, devido às pressões da polícia política. Comparou o comportamento dos jovens em França, num regime de democracia liberal, com as restrições então vividas em Portugal, sob um regime autoritário de direita. E relembrou o papel da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen, como fundadora e membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, em 1969.

     Esta palestra contou ainda com a presença da ex-deputada do Partido Socialista, Rosa Albernaz, da esposa do Dr. Alberto Martins, magistrada jubilada do Ministério Público, e de várias figuras destacadas da comunidade espinhense. O general Eduardo Teixeira ofereceu à Biblioteca da Escola o livro Operação Viragem Histórica – 25 de Abril de 1974, escrito pelo comandante da Marinha Carlos Almada Contreiras (membro do Conselho da Revolução).

     Os alunos consideraram esta palestra uma mais-valia, visto que lhes possibilitou ouvirem, de viva-voz, alguns dos protagonistas da oposição ao Estado Novo e um capitão da Revolução do 25 de Abril. Puderam aperceber-se também do modo como a polícia política atuava e impedia a livre expressão e a vivência em todos os domínios da vida humana em Portugal.

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