jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

A ‘Viagem’ no AEML

(2013 – 2022)

     Quando decidimos viajar, temos na nossa mente um objetivo, vários propósitos, de forma a tornar as experiências que vivenciamos mais significativas. Ter uma motivação especial faz toda a diferença.

     Quando em 2013 me candidatei a diretora do AEML, comecei uma viagem pelo desconhecido, pois o Agrupamento tinha um ano de existência. Era preciso criar uma cultura própria, absorver as especificidades do 1º ciclo e do pré-escolar, trabalhar mais de perto com a autarquia e abarcar um universo enorme de alunos, professores, funcionários e pais que desconhecia. Propus-me implementar um modelo organizacional alavancado nos princípios de confiança e transparência na ação e numa liderança democrática, promotora dos valores da participação, responsabilidade e cidadania.

     Assumi o compromisso de garantir o respeito e a dignidade de cada um dos elementos desta comunidade, através de uma gestão ética e responsável dos recursos humanos, orientada para a promoção do sucesso educativo dos alunos, a eficiência e a eficácia dos serviços prestados, a construção, enfim, de uma escola de qualidade.

     Para esta viagem, tive de escolher  quem partilhasse esta vontade, e quem fosse capaz de, muitas vezes, contrariar os meus receios, alguém em quem confiasse para vivermos juntos esta aventura.

     E, de facto, os meus companheiros foram muitos e todos deram um contributo diferente à equipa. Todos juntos crescemos e amadurecemos, perante a diversidade e as adversidades, mas sempre mantivemos o mesmo lema:  ‘Mais e Melhor Escola’ para os nossos alunos.

     Além destas equipas, houve vários encontros com outros viajantes em diferentes pontos do Agrupamento e que, num espírito de liderança partilhada, trouxeram mais valor e contribuíram para engrandecer esta viagem.

     Houve a alegria do reencontro com os que iam e regressavam, quer alunos quer professores.

     Criaram-se marcas de identidade muito nossas: as festas de final de ano do Agrupamento, a inclusão de todos os alunos, a proximidade com as famílias, as cerimónias de entrega de diplomas, os almoços pedagógicos, os jantares e os passeios de pessoal docente e não docente, as visitas de estudo ao estrangeiro, a Laranjeira TV, o jornal Plural, o centro de formação desportiva de surf, o Trilhar o Futuro.

     Tivemos grandes conquistas: a melhoria dos resultados escolares a nível interno e externo, os prémios nos concursos nacionais, o parque escolar praticamente renovado na totalidade, o aumento do número de assistentes operacionais, técnicos e técnicos superiores.

     Fizemos opções pedagógicas em prol dos nossos alunos.  Vivemos as alterações a nível de currículo, com provas finais e exames nos 4º, 6º, 9º, 11º e 12º anos,  depois provas de aferição, provas finais e exames, a entrada em vigor da autonomia e flexibilidade curricular e a inclusão. Tantas vivências! Não esqueçamos, ainda, os CEF que foram e vieram, os cursos vocacionais que chegaram e logo terminaram e a oferta de cursos profissionais, com as prioridades a mudar anualmente.

     Nesta viagem, a nível da carreira docente, tudo mudou e a escola viveu um alvoroço, com recuperação de tempo de serviço, com avaliações de desempenho, com formação de professores, com concursos extraordinários de vinculação, com excesso e, agora, falta de professores. Mas também com perdas nas carreiras do pessoal não docente, quer salariais quer de progressão.

     Tantas conquistas alcançadas com o esforço de alguns e, por vezes, desvalorizadas por quem quer andar discretamente e nem conhece o seu próprio percurso.

     Houve, naturalmente, vários percalços, perdas de vidas humanas, que não conseguimos entender e que nos marcaram, mas nunca deixamos de estar ao lado de toda a comunidade educativa.

     Neste turbilhão de sentimentos que me assola, quero ter a objetividade de fazer o relato desta viagem, que, para ser fidedigno, não pode esquecer estes últimos anos.

     Os anos de pandemia, que nós, não deixamos que fossem de pandemónio. Foram horas de viagem em equipa, em que o limite de velocidade nunca foi cumprido, atentos às vertentes pedagógica, social e humana, à saúde pública, à gestão de recursos humanos, a repensar a Escola …. foi uma vitória tudo o que conseguimos fazer e uma memória que só alguns podem ter.

     Olho para os diferentes pontos de paragem e de recomeço e sinto que deixamos muito de nós.

     Na etapa final, a história desta viagem teve momentos negros, tendo a falta de verdade, de lealdade e de sentido de serviço público por quem tinha o dever de ser exemplo marcado, de forma diferente, cada um de nós e o AEML.

     Tal como até aqui, todos somos responsáveis pelo que será o Agrupamento.

     A todos o meu muito obrigada.

     A uns, Obrigada por terem contribuído para as conquistas, terem acreditado no roteiro desta viagem e nos terem dado alento.

     A outros, Obrigada por me terem mostrado o caminho que não quero seguir.

     A viagem terminou num destino diferente do traçado, mas com uma certeza: a da consciência do dever cumprido.

 

Vila Nova de Gaia, 15 de março de 2022
Ana Gabriela Moreira
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