jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

Uma aventura literária

 

 

     As alunas CAROLINA SANTOS e Beatriz Nunes, do 12º D, participaram no concurso “Uma aventura… literária” da Caminho (LEYA). Entre 12798 trabalhos, foi atribuída uma menção honrosa à Carolina.

 

Ana Rosa Silva, professora de Português

 

Instabilidade emocional: mito ou realidade?

 

     Nos dias de hoje, ouvimos falar de depressões, ataques de pânico e de ansiedade, de doenças mentais e dos seus efeitos, mas será que se abordam suficientemente estes temas? Será que realmente sabemos o que isto é? Será que de facto são uma realidade ou são apenas uma desculpa para não fazermos isto ou aquilo, um pretexto para justificarmos os nossos comportamentos?

     De facto, a saúde mental é a base do nosso bem-estar. No entanto, embora este seja um assunto cada vez debatido, penso que ainda não o é de forma suficiente. Efetivamente, muitos de nós não são capazes de reconhecer uma situação de desequilíbrio emocional noutra pessoa ou então de saber como intervir num momento destes, o que se deve à falta de informação ou à desinformação que circula tanto nas redes sociais como nas escolas. Ao contrário do que muitos pensam, problemas de saúde mental são muito frequentes, até mesmo em países pequenos como Portugal, em que, segundo o relatório Health at a Glance, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em 2018, 18,4% da população, quase um quinto, sofria de doença mental, onde se inclui ansiedade, depressão ou problemas com o consumo de álcool e drogas. Com efeito, somos o quinto país da União Europeia com maior prevalência de problemas de saúde mental.

     Contudo, não basta analisarmos as estatísticas, é necessário compreender este conceito, não só o seu significado literal, mas também tudo aquilo que implica, quem afeta e como afeta. ‘Saúde mental’ é definida como o estado de equilíbrio entre uma pessoa e o meio em que se encontra, medido através da facilidade de adaptação, de comunicação e de convivência, assim como da capacidade de definir projetos de vida e de superar crises ou perdas. Desta forma, todos nós podemos, num ou noutro momento da nossa vida, ser afetados por problemas de saúde mental, de maior ou menor gravidade, sendo que, segundo estudos da OCDE, as mulheres, os jovens com idades entre os 18 e os 29 anos, os desempregados e as pessoas com rendimentos mais baixos apresentam taxas mais elevadas de sofrimento psicológico moderado a grave. Este pode ser desenvolvido pelas preocupações com o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, pela insegurança relativa ao emprego e ao rendimento e pela perda do apoio social ou pelo isolamento forçado devido à atual pandemia de covid-19.

     Como se verifica, as doenças mentais não são um mito, elas existem e devemos sempre procurar um tratamento para este problema que é uma realidade e que afeta cerca de 30 em cada 100 pessoas. Todos deveríamos saber como ajudar os outros, os que convivem connosco e sofrem ao nosso lado.

     Em suma, o desenvolvimento de projetos como o Programa Nacional para a Saúde Mental, que define medidas para promover o bem-estar e a saúde mental da população, é fundamental, tal como uma maior discussão acerca deste tema, para que as pessoas afetadas por problemas deste tipo deixem de ser incompreendidas e estigmatizadas.

 

Carolina Santos, aluna do 12º D

Uma carta para ti

  

     A mente humana é muito perigosa. É, sem dúvida, a nossa maior arma contra o mundo e até contra nós próprios.

     Mesmo tendo em conta toda a complexidade da nossa cabeça, o certo é que os problemas a ela associados são muitas vezes subestimados e vistos como caprichos ou estados passageiros.

     Doenças mentais como ansiedade, depressão ou anorexia, todas são vistas como meio para chamar a atenção. Mas, por experiência própria de quem viveu este último ano com estas três condições, sei que não é fácil lidar com estas situações, principalmente sendo tão jovem.

     E, agora, posso começar esta carta para ti, Beatriz…

     Sim, é verdade, o tempo não parou, não houve uma pausa milagrosa nessa época de criança. Aos olhos da sociedade já és adulta. Numa situação normal, diria que agora é que começa a vida, mas, analisando tudo o que viveste neste ano que passou com os teus “pequenos” 17 anos, acredito que a tua vida de adulta começou mais cedo.

     Aos 18 anos, a tua jornada continua e agora tens de arrumar aquilo que desarrumaste em criança. Está a ser um desafio e é provável que duvides de ti ao longo do processo. Mas, agora, sei que tu consegues, sei que aguentas! Sei que vais… vencer!

     Posso dizer que vives como se de um jogo se tratasse: iniciaste-o, passaste por diversos obstáculos e agora terás de chegar ao final.

     Perguntas-te sobre o modo como tudo se processou?

     A partida foi aos 16 anos, altura em que iniciaste a dieta, aos 17, bateste no fundo do poço e aos 18 começa a verdadeira batalha da recuperação. Estás no ponto em que tens de afastar esse nevoeiro que te ilude a visão e te deixa perdida… tens de procurar aquilo que representa a esperança, o teu D. Sebastião.

     Neste último ano, passaste por muito, atravessaste o deserto, sinceramente, pergunto-me como aguentaste… e como ainda aqui estás… só de  recordar as vezes em que pensaste em deixar de ver a luz, em abandonar tudo e todos… o desespero era tanto e tão forte e a vontade de te livrares de toda aquela dor faziam com que não conseguisses pensar em mais nada, em mais ninguém… foram milhares as lágrimas que escorreram pela tua face e poucos os sorrisos que esboçaste… e aqueles que esboçaste, podes ser sincera… eram falsos!

     É um facto, 2021 foi um ano que te marcou, como aquele em que arruinaste a tua vida, destruíste-a completamente. Sempre pensaste que seria só uma fase, dizias para ti mesma “Daqui a uma ou duas semanas, isto passa” ou “Amanhã tento melhorar”. Não tiveste noção daquilo em que te metias, eu sei disso, no fundo, só tiveste essa consciência um pouco antes do momento que mais te deixou “cicatrizes”, o internamento… Seres internada foi algo que custou, não só a ti, mas a todos os que te rodeavam, foi um sofrimento conjunto e constante… mas também uma felicidade de te ver a querer lutar e recuperar… Por isso, no fundo, diria que o internamento teve o seu lado positivo, apesar de ser recordado como negativo. Durante aquele tempo sofreste muito, mas aguentaste-te firme, estiveste bem, Bia! Foste buscar aquela força que todos diziam que tinhas e tu não acreditavas. Para além da recuperação física, que já foi notável, também melhoraste a nível psicológico. Conseguiste crescer e posso até enumerar três lições que aprendeste sobre ti e sobre a vida: a primeira diz que, por vezes, o melhor é  afastarmo-nos do mundo, mesmo que nos custe muito porque é o melhor para sabermos lidar connosco e com os outros; em segundo lugar, colocaria a frase “Nunca devemos arrumar as gavetas da nossa mente todas ao mesmo tempo, pois assim só aumenta a desarrumação”… isto é, devemos resolver os nossos problemas, um de cada vez; e, por fim, compreender que ‘devagar se chega longe’, não se deve acelerar um processo, apenas seguir de forma a nos sentirmos bem.

     Nessa tua fase mais negra, adquiristes diversas armas para enfrentares o mundo, mais que reaprender a comer, reaprendeste a viver! Esta maratona da melhoria continua… e a meta a alcançar não é mais que a felicidade, a saúde, a vida!

     Agora, apenas te posso dizer que espero estar à altura dessa tua força de criança. Nunca te disse isto, mas tenho muito orgulho em ti! Se não fosse o teu grito de socorro, eu não estaria aqui, por isso obrigada. Ficarás sempre na minha memória, uma boa e má memória. Tu és o molde de quem sou hoje, contigo aprendi a ver a vida e a realidade do mundo com outros olhos. Tu não és só o molde de quem sou agora, mas o molde de quem eu vou ser no futuro.

     Para concluir e me despedir de ti, digo-te que és o reflexo do meu novo eu, e eu vou fazer de tudo para melhorar e para continuar esse teu trabalho!  Vou continuar a lutar pela mudança!

 

 

Beatriz Nunes, aluna do 12º D
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