jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

Sermão de Santo António

(ouvido pelos “peixes” do 11º ano, em 2021)

“Payassu”, de novo (e para repetir)

Apesar das contingências adversas, lá fomos ao encontro do “Pai Grande”.

     A Igreja de Anta acolheu os peregrinos. Não foi S. Luís do Maranhão, mas não está distante do mar. O caminho foi feito ao andamento de quem precisa de ler o Sermão de Santo António, esse texto vieirino de furor e de crítica a um tempo que se arrasta do século XVII até hoje (ou até ao futuro).

     Fosse o século XIII e podíamos ter o pregador Santo António; fosse o XVII e outro António mostrar-se-ia. Hoje foi o tempo da representação de Marcelo Lafontana, com as palavras de Vieira em articulação e aproximação às vivências dos nossos dias (tão afins aos de há quatro séculos), bem como às de um auditório juvenil tomado por “peixinhos”. Numas andas que sugerem o “Pai Grande” ou o púlpito que teria sido o espaço da prédica, lá assistimos à encenação de um ator, com a sonoridade autêntica do Português do Brasil, mais a força da palavra (do verbo) que se mantém intemporal e para lá de qualquer espaço ou cultura.

     No final, na sequência que corresponde à peroração (conclusão do sermão), uma imagem surge como que duplicada aos olhos de quem assiste: é como se fosse o efeito de espelho que o barroco tanto explorou. No discurso do sermão em causa, há vários: o do conceito predicável (Vos estis sal terrae) projetado das palavras de Cristo para as de S. Mateus, de Santo António e do próprio Padre António Vieira; o dos peixes, que são metáfora de homens; o das virtudes e o dos vícios, alegoricamente representados por peixes, que também são dos homens; o dos pensamentos e das sequências oximóricas que abundam no discurso do nosso orador seiscentista.

       Esta foi uma experiência de representação, de oralidade, para familiarizar com a leitura de um texto muito pertinente e atual. “Não é tudo isto verdade?”

 

https://youtu.be/wO2G4F6grMI 
(Representação do Cap. IV do Sermão de Santo António, de Padre António Vieira)

 

Texto de Vítor Oliveira, professor de Português
Fotos de Ana Rosa Silva, professora de Português
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