Manuel Laranjeira, patrono do Agrupamento
Atividade da "Semana Outoniça".
“O mar é símbolo da inquietude desta ansiosa alma que nos faz andar sempre a desejar, a desejar, a desejar sem fim!” – ML
Manuel Laranjeira nasceu em Mozelos, Santa Maria da Feira, a 17 de agosto de 1877.
Em 1898, a família fixou morada em Espinho, na atual rua 19. Tratava-se de uma família modesta, mas a herança de um tio brasileiro fez com que Manuel Laranjeira prosseguisse os estudos, tendo-se formado em Medicina, na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. A tese que apresentou, sobre “A doença da santidade”, valeu-lhe uma classificação de 19 valores.
Desde muito novo começou a escrever poesia e teatro, que publicava em periódicos como a Revista Nova, A Arte e O Norte, e mostrou o seu empenhamento e o seu génio assinando artigos (hoje compilados) sobre temas tão diversos como política, crítica social, religião, literatura e outras artes, medicina, filosofia ou educação.
Além disso, desenvolveu intervenções de natureza social e política. É deste modo que o vemos agir politicamente, por exemplo, na Comissão de Propaganda do Centro Democrático de Espinho.
Dotado de um saber enciclopédico e de uma vasta cultura literária e artística (conhecia pelo menos cinco línguas, o que lhe permitia ler no original os escritos que moldavam os espíritos do seu tempo), Laranjeira possuía ainda um espírito mordaz e contundente, o que o levou a intervir na vida do nosso país, assumindo-se como um espírito permanentemente insatisfeito com a pequenez da sociedade e da cultura que o rodeava.
Foto de José de Carvalho
“Penso sentindo, e sinto pensando – tudo isto constitui a minha vida.” – ML
“Eu gastei a mocidade, a saúde, metade da vida – a aprender.
E aprendi o que ninguém aprendeu neste país de ignorantes e de frades” – ML
Foi amigo e correspondente de vários intelectuais do seu tempo, destacando-se o pintor Amadeo de Souza-Cardoso, o poeta espanhol Miguel de Unamuno e os escritores Teixeira de Pascoaes, Teófilo Braga e Ramalho Ortigão. As cartas que com eles trocou (hoje também já publicadas) refletem bem o seu saber e temperamento.
Em 1907 mostrou interesse em fixar-se em Paris, onde vivia o seu amigo pintor e, em 1908, conheceu Miguel de Unamuno, em Espinho.
No entanto, ainda novo, sentindo os efeitos da doença (uma sífilis nervosa), desiludido com a inépcia dos políticos e com a falta de incentivos culturais no quotidiano nacional, foi vítima de crises depressivas, oscilando a sua vida entre o prazer e uma profunda tristeza e tédio.
No final da tarde do dia 22 de fevereiro de 1912, estando já acamado, deprimido e desesperado com a doença, suicida-se com um tiro na cabeça. Ia completar apenas 35 anos.
“Eu sou um filho deste século de tristeza, de ansiedades impossíveis de satisfazer. O espírito humano contemporâneo voou muito alto, a altura que o coração não atinge. O resultado é o homem exigir à vida coisas que ela não pode dar […] e falhar!” – ML
Caricatura feita pelo seu amigo e célebre pintor Amadeo de Souza Cardoso.
Laranjeira e a crítica
“Manuel Laranjeira foi um dos mais nobres espíritos do nosso tempo e digno, portanto, de todas as homenagens.” – Teixeira de Pascoais
“A sua trágica morte privou-nos do que, provavelmente, viria a ser o nosso melhor dramaturgo naturalista.” – Óscar Lopes
“Um homem de aguda sensibilidade intelectual e brava independência de carácter.” – F. de Figueiredo
“Iluminó se cabeza, que era poderosíssima en el pensar, com la llama de su corazón.” – Miguel de Unamuno