jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

Luís Mota (músico e compositor)

(Aluno da escola Manuel Laranjeira entre 2004 e 2007)

Foi com muito gosto que aceitei escrever um pouco sobre mim para o jornal ‘Plural’. Ao partilhar o meu percurso como músico e compositor, espero inspirar atuais alunos (e não só) a seguirem a sua paixão profissional, seja ela qual for.

O meu percurso musical foi marcado por circunstâncias e mudanças que nem sempre me pareceram positivas, mas que se revelaram importantes momentos de viragem. Aos sete anos, na Academia de Música de Espinho, comecei a estudar violino com Emília Alves, professora de viola de arco (um instrumento muito parecido com o violino, mas ligeiramente maior e com um som mais grave), por não haver vagas disponíveis nas aulas dos professores de violino. Foi com ela e com a ajuda da minha mãe que fiz os meus primeiros exercícios de composição. Desde pequeno, sempre azucrinei os meus pais ao tocar no piano ou em tachos e panelas, mas foi neste momento que tomei consciência de que havia algo mais a descobrir no mundo da composição.

Algum tempo mais tarde, pelo Natal, recebi o programa de notação musical Finale. Esta ferramenta possibilitou-me compor e experimentar como nunca antes conseguira e ajudou-me a escrever para vários instrumentos ao mesmo tempo. Foi neste programa que, anos mais tarde, escrevi a minha primeira ópera infantil, baseada num libreto de Jorge Reis-Sá.

Em 2002, tive finalmente uma professora de violino, mas, quando tinha treze anos, ela saiu da academia. A passagem para o professor Pedro Rocha, apesar de me ter obrigado a mudar a técnica e a corrigir alguns maus hábitos, foi determinante para o meu futuro musical. Foi graças a ele que decidi seguir profissionalmente a minha paixão pela música e que enfrentei os desafios técnicos e musicais necessários para ser admitido na Royal College of Music em Londres. Lembro-me da minha primeira visita a Londres e da ansiedade que senti antes das provas de admissão. Curiosamente, a professora com quem eu queria estudar estava presente na minha audição e gostou de mim!

Um dos momentos mais marcantes na minha vida foi a mudança para Londres, em setembro de 2010. Sozinho, numa altura em que os smartphones ainda não eram o que são hoje, ir estudar para uma grande metrópole, aos dezoito anos e sem conhecer ninguém, foi um desafio enorme! Fui exposto a uma realidade diferente e a um nível artístico incrível. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, terminei o meu mestrado em 2016 e estou extremamente grato por ter tido a oportunidade de seguir aquilo de que gosto e ter superado os meus medos.

Vivo agora em Londres, onde trabalho como compositor (www.luis-mota.com), tendo colaborado com músicos do Reino Unido, França, Espanha, Itália, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Austrália, entre muitos outros. Estive envolvido na orquestração das bandas sonoras da série ‘Veleno’ e do vídeo-jogo ‘Card Shark’ (Itália). Editei as partituras e fiz o arranjo do projeto ‘Jeju – April 3rd’ de Seayool Kim (Coreia do Sul) e tive o privilégio de produzir uma gravação orquestral em Praga, onde gravei a minha peça ‘Camila’. Gravei outras 4 peças baseadas em música tradicional portuguesa com o Cat’s Cradle Collective, dirigido por António Sá-Dantas.

     https://www.youtube.com/watch?v=3ub4BfhTsuc&t=36s (Numa competição, no ano passado)

Compus a banda sonora para dois filmes mudos de 1925 (para serem reeditados em DVD): ‘The Unholy Three’ e ‘Ben-Hur: A Tale of the Christ’. Em 2019, foi-me atribuído o diploma de louvor ‘Distinção e Mérito Jovem Espinhense’ pela Câmara Municipal de Espinho.

Guardo boas memórias dos três anos que passei na Escola Dr. Manuel Laranjeira (na altura ainda não existiam os agrupamentos), em particular das minhas aulas de Português. Ainda hoje me deleito com a leitura, por influência da minha professora, Olga Coimbra, que me desafiou e inspirou tremendamente. Continuo a ler bastante, mas nem sempre em português! Durante o confinamento, em 2021, li o livro Invisible Cities de Italo Calvino — uma coleção de pequenas descrições de cidades imaginadas, por vezes impossíveis. Esta foi a inspiração que me levou a escrever o meu primeiro álbum, ‘Invisible Cities’, lançado em setembro de 2021 (https://spoti.fi/3FYZTxm).

https://open.spotify.com/track/2oimRHwCc0hiiAMndYK4hD?si=8e7381a27a3d4ec3     (‘Invisible Cities’ – Octavia)

Espero que este resumo do meu percurso possa incentivar, em particular, aqueles que pretendam seguir uma carreira artística ou os que tenham receio de ir para o estrangeiro. Tenho aprendido que nem tudo segue uma linha reta — todas as experiências contribuem para o nosso enriquecimento profissional e cultural.

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