Homenagem a António Gedeão
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“Todo o tempo é de poesia.
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
À frigidez da agonia. […]”
Há poemas que não esquecemos. De tão simples, conseguimos fixá-los facilmente. De tão belos, tocam-nos profundamente.
É o caso dos poemas de António Gedeão.
Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho) foi professor de Física e Química, divulgador e historiador das Ciências, cientista e autor de livros e de artigos científicos. Viveu entre 1906 e 1997. O seu notável contributo para a propagação do ensino das ciências e da cultura científica no nosso país é reconhecido por todos.
Os “Cadernos de Iniciação Científica”, da sua autoria, com uma primeira edição em 1985, correspondem a 18 fascículos, cada um dedicado a um tema. Essencialmente destinados a jovens, pretenderam ser um meio de informação sobre conceitos fundamentais das ciências físicas, feita de forma atraente, com uma linguagem simples e uma apresentação gráfica apelativa. Muito atuais, podem ser lidos por pessoas de todas as idades.
António Gedeão começou a publicar poemas com cinquenta anos, tendo sido logo colocado entre os melhores nomes da cultura portuguesa contemporânea. As suas primeiras obras “Movimento perpétuo” (1956), “Teatro do Mundo” (1958) e “Máquina do Fogo” (1961) não passaram despercebidas. A originalidade e segurança artística do poeta geraram uma onda de simpatia e admiração. A grande novidade da sua obra consistia numa visão diferente do mundo, tendo como pano de fundo a cultura científica atual.
António Gedeão é, ainda, autor de obras de teatro, ficção e de ensaios.
A linguagem especializada que aparece nos poemas de António Gedeão deriva da física, da química e das ciências naturais. Entre tantas outras expressões, “De mais infinito a menos infinito, universo em expansão, radar, ultrassom, pontos da trajetória, suspensão coloidal, luz de magnésio, nebulosas, combustar-se…” surgem nos seus poemas, de forma muito original.
A sua poesia é amplamente conhecida. Nas escolas, os seus poemas são explorados em diferentes contextos, seja nas aulas de Português seja nas aulas das áreas científicas. Os seus poemas falam do Homem, da condição humana, do amor e da guerra.
António Gedeão é o poeta que escreve “o sonho comanda a vida” e que “sempre que o homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”. É o autor da “Pedra filosofal”.
É o poeta que escreve “As rubras flores vermelhas não são papoilas, não. / É o sangue dos soldados que está vertido no chão.”
Alguns dos seus poemas são amplamente declamados ou cantados. É o caso de “Poema para Galileo”, declamado por Mário Viegas, ou de “Pedra filosofal”, cantado por Manuel Freire. Ou dos poemas “Lágrima de preta” e “Fala do Homem Nascido”, cantados, respetivamente, por Manuel Freire e por Adriano Correia de Oliveira.
No poema “Lágrima de Preta”, o poeta diz-nos que as lágrimas são todas iguais, numa chamada de atenção para o tema do racismo. Após analisar a lágrima de uma preta, escreve:
“Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio.”
No dia 24 de novembro celebra-se o Dia Nacional da Cultura Científica. É uma homenagem a António Gedeão, nascido nesse dia, em 1906.
Nesse dia, em várias escolas de todo o país, os alunos são envolvidos em atividades relacionadas com as ciências, com o objetivo de dar a conhecer Rómulo de Carvalho / António Gedeão, o poeta, professor e cientista, e de promover o interesse pela Ciência, entre os mais novos.
