Os alunos da turma C do 10º ano foram desafiados, pelo professor João Paulo Reis, a redigir um texto expositivo sobre a forma como Gil Vicente concretiza, na Farsa de Inês Pereira, a crítica ao materialismo característico da sociedade do século XVI.
A obra Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, como o nome já diz, é uma farsa, ou seja, apresenta características da vida do quotidiano da época e também tem uma componente satírica, pois o autor critica vários aspetos da sociedade do século XVI, provocando o riso.
Deste modo, alguns dos alvos dessa crítica social são os casamentos por negociação ou interesse, o fascínio das jovens mulheres pelo universo cortês, o desejo de ascensão económica por parte das jovens, a hipocrisia e artificialidade social e o acentuado materialismo da sociedade, como podemos notar em algumas personagens da obra.
Gil Vicente concretiza a crítica ao materialismo a partir, principalmente, de duas personagens, os Judeus Latão e Vidal, que representam uma só personagem, e de Lianor Vaz. Os Judeus são muito astutos, arranjando casamentos, mas só se interessando pelo dinheiro, pela recompensa que vão ganhar e isso mostra-se, nomeadamente, quando a festa de casamento de Brás da Mata e Inês termina e eles só perguntam sobre essa recompensa. Por outro lado, a alcoviteira Lianor Vaz tem praticamente o mesmo trabalho dos Judeus, isto é, dedica-se a arranjar casamentos. Ela revela-se interesseira e materialista, por exemplo, quando, logo no início, apresenta, de forma exagerada, as qualidades de Pero Marques, pretendente a Inês, apenas com a intenção de lucrar com o negócio.
Porém, para além destas personagens, a Mãe de Inês também se mostra materialista, visto que só pensa no casamento da filha como uma forma de ganhar estabilidade económica, aconselhando-a a casar com Pero Marques.
Em suma, a farsa faz crítica ao materialismo que existia em alguns setores da sociedade portuguesa, representados, nesta peça, pela atividade dos casamenteiros.