Educação Física e E@D
Quisemos saber como decorreu o ensino/aprendizagem de Educação Física e, para isso, ouvimos o professor António Natário, que leciona esta disciplina, no 2º ciclo.
Quisemos saber como decorreu o ensino/aprendizagem de Educação Física e, para isso, ouvimos o professor António Natário, que leciona esta disciplina, no 2º ciclo.
Como foi a experiência da prática letiva da disciplina de Educação Física nesta nova realidade?
Este segundo confinamento levou-nos novamente ao contexto de E@D. Lecionar Educação Física (EF) nestes moldes não é nada bom para professores e alunos. Diria mesmo que é frustrante para quem gosta de ver e fazer movimento… A disciplina e o desenvolvimento motor dos alunos ficam naturalmente afetados. Estas sete semanas passadas em frente a um computador e a ver as crianças por um ecrã não foram nada fáceis para ninguém. Apareceram sempre dificuldades de vária ordem: alunos que não tinham acesso à internet, alunos que sentiam dificuldades em lidar com o mundo digital, alunos sem condições de espaço para realizarem as atividades propostas, etc.
O grupo disciplinar teve de reformular a planificação da disciplina de EF do 2º ciclo, uma vez que era impossível o cumprimento do currículo em toda a sua extensão. Dada a impossibilidade de incluir no processo ensino-aprendizagem atividades práticas relativas a Atividades Físicas e Aptidão Física, áreas estruturantes do currículo da disciplina, a atividade pedagógica foi planificada orientada, prioritariamente, para os seguintes pressupostos:
a. A manutenção e/ou elevação da condição física, na perspetiva da saúde e do bem-estar;
b. O conhecimento dos processos de desenvolvimento e manutenção da aptidão física;
c. A aprendizagem dos conhecimentos relativos à interpretação do regulamento das modalidades desportivas.
A necessidade de alteração, neste contexto, não pode ser confundida com a ideia de transformar a EF no E@D só numa disciplina teórica. Incluímos em todas as aulas síncronas uma parte significativa de exercícios de Condição Física. Incentivamos sempre à prática de atividade física ao longo da semana com propostas de trabalho que fomos apresentando nas aulas assíncronas (vídeos de exercícios individuais, tabatas, …), destacando sempre que era muito importante os alunos manterem-se ativos, realizando, durante a semana, 3 a 4 vezes, 20 a 30 minutos de atividade física.
Neste contexto de E@D, conseguimos desenvolver estratégias que permitiram a promoção de aprendizagens ativas, possibilitando o envolvimento do aluno no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências (literacia digital) de diferentes níveis de complexidade.
Quais os desafios que se colocaram?
Os desafios, e apesar de esta ser a segunda experiência neste tipo de E@D, foram a necessidade de criar novas práticas de ensino e a procura constante de ferramentas de trabalho e de conhecimentos com a participação em Webinars.
Quais as dificuldades sentidas?
A grande dificuldade que senti foi o facto de não conseguir visualizar todos os alunos a realizarem os exercícios práticos. Lecionar EF a alunos com idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos, sem autonomia para executarem corretamente os exercícios sozinhos, foi complicado. Precisávamos de estar constantemente a enviar feedbacks sobre o resultado do trabalho que estavam a realizar, para evitar o risco de algum aluno se magoar.
Outra dificuldade sentida foi o facto de em minha casa estarem, simultaneamente, três pessoas em aula: a esposa e eu a lecionar e o filho a assistir, cada um no seu compartimento, alguns deles com fraco sinal da internet.
Seria positivo para o E@D, de modo a facilitar as aprendizagens, que todos os alunos colaborassem, o que nem sempre acontecia, e que todos pudessem dispor das tecnologias e outras condições, já que esta disciplina implica presença física do professor para que seja lecionada em toda a sua plenitude.
Quais os aspetos positivos?
O final do terceiro período do ano letivo anterior e este segundo período foram uma oportunidade para compromissos coletivos no Grupo Disciplinar (260) de EF. Debateram-se e encontraram-se estratégias e entendimentos que permitiram uma abordagem coerente e partilhada, em que o trabalho de cada um teve efeitos no trabalho de todos – como é exemplo a produção distribuída e partilhada de conteúdos e recursos.
Como avaliar de forma justa os alunos?
Esta foi uma preocupação causada pela tremenda dificuldade que uma avaliação à distância contém. A avaliação nesta forma de ensino não é justa. Todos “sabemos que ficamos sem saber” se foram os alunos que executaram/realizaram as tarefas sozinhos … ficando a dúvida sobre se as aprendizagens foram conseguidas ou não. Uma forma mais justa implicaria que os alunos realizassem as tarefas nas aulas síncronas e, mesmo assim, ficaríamos sem saber se estavam sozinhos ou não…
Teremos sempre de realizar um reforço das aprendizagens e avaliá-las, novamente, no ensino presencial.
Teria sido melhor, a exemplo do que já sucede nas escolas com organização semestral do ano letivo, que as restantes escolas reduzissem a dois os momentos de avaliação sumativa. Isso teria permitido uma lecionação mais tranquila, mas, principalmente, uma avaliação mais justa.
Que implicação terá este sistema de E@D na aprendizagem?
As implicações serão grandes, pois os alunos não estão em pé de igualdade. Os que têm mais dificuldades de aprendizagem vão, com certeza, ficar ainda em maior desvantagem. Apesar do esforço de todos os agentes educativos na procura da diminuição dessas desigualdades e dificuldades, elas vão continuar a existir.
Nada substitui o ensino presencial!