Camões
Não é por mero fruto do acaso que nos referimos à nossa língua como a língua de Camões. De facto, o poeta soldado foi, sem dúvida, uma das vozes mais emblemáticas do Português.
Camões e o seu legado
Não é por mero fruto do acaso que nos referimos à nossa língua como a língua de Camões. De facto, o poeta soldado foi, sem dúvida, uma das vozes mais emblemáticas do Português. A notável obra camoniana estende-se desde a lírica ao teatro, incluindo também uma das mais importantes e célebres produções literárias da nossa História – a epopeia Os Lusíadas. A vida plena de aventuras e desventuras de Camões encontra-se espelhada em tudo o que escreveu e, como homem muito culto, aventureiro e visionário que foi, o Poeta deixou-nos um valiosíssimo testemunho e inúmeros ensinamentos intemporais.
Camões viveu no século XVI, um tempo de grandes mudanças, em especial no que toca ao pensamento e às conceções do Homem e do mundo. O crescimento dos ideais renascentistas e humanistas, bem como a recuperação dos modelos da Antiguidade Clássica, levaram a um grande desenvolvimento a nível das ciências, das letras e das artes, mas também a que o ser humano se redescobrisse e valorizasse de forma diferente daquela que se verificou durante a Idade Média, com a sobreposição do pensamento antropocentrista aos valores religiosos.
A obra camoniana reflete claramente a sua época, mas Camões não se limitou a seguir os modelos clássico e renascentista. Em vez disso, superou-os, inovando e mostrando uma visão muito à frente do seu tempo. Por exemplo, na lírica que escreveu, o Poeta não cantou apenas a mulher petrarquista, idealizada e fictícia, de tez nívea, olhos claros e cabelos louros, mas celebrou, elogiou e divinizou também mulheres reais e belezas não convencionais, como a da escrava Bárbara e a da chinesa Dinamene.
Para além do retrato elogioso da mulher amada, o próprio amor é também um tema central na lírica camoniana. A experiência de Camões, mulherengo e apaixonado, permitiu-lhe refletir sobre a natureza contraditória deste sentimento, que, se, por um lado, é capaz de elevar o ser humano, pode também ser fonte de sofrimento. O Príncipe dos Poetas escreveu sobre o amor platónico e idealizado, mas também sobre o amor pleno (emocional e físico), pois, em toda a sua modernidade, admitia a felicidade na vida terrena.
Camões revela-se ainda, em consonância com os ideais humanistas da sua época, um defensor dos Direitos Humanos, séculos antes da sua declaração universal. Tal é evidenciado, por exemplo, nas reflexões do Poeta, no Canto VII de Os Lusíadas, nas quais explicita quem merece ou não ser por ele imortalizado, declarando que se recusa a cantar os egocêntricos, que priorizam os seus interesses individuais em detrimento de tudo o resto, os gananciosos, aqueles que se servem do poder para satisfazerem os seus vícios e para explorarem os mais frágeis, os hipócritas e manipuladores, os corruptos e aqueles que tecem juízos de valor sobre dificuldades pelas quais não passaram.
O ideal renascentista de que ‘o Homem tudo pode’ está também presente na epopeia de Camões, na medida em que o Poeta destaca as ‘obras valerosas’ que os portugueses foram capazes de realizar, bem como o seu espírito de superação, apresentando-os como um povo superior, descendente de deuses e capaz de ultrapassar quaisquer obstáculos, como se pode constatar através do episódio do Adamastor, por exemplo. No entanto, no final do Canto I, o épico português reflete também sobre a condição frágil e efémera da vida humana, face aos inúmeros perigos da Natureza e ao destino, referindo-se ao Homem como “um bicho da terra tão pequeno”.
O século XVI é também considerado o século de ouro de Portugal. Os Descobrimentos e a expansão marítima revelaram a vastidão e a diversidade do mundo e permitiram a construção de um extenso Império, bem como a posse do monopólio do comércio dos mais variados produtos. No entanto, o final do século contrastou sobejamente com toda esta glória, tendo a decadência da pátria culminando na perda da independência, em 1580. Assim, Camões assistiu não só ao auge da nação, mas também ao seu declínio.
De facto, tudo isto surge também refletido na obra épica camoniana, na medida em que o Poeta glorifica os grandes feitos do povo luso, imortalizando-o e louvando as suas virtudes, como a coragem, a resiliência e o espírito aventureiro, mas, apesar de patriota, não se abstém de tecer críticas aos vícios e aos defeitos da nação, como a falta de cultura, o ócio e a ambição desmedida, por exemplo, mostrando-se profundamente desalentado com a decadência do Império. Com as suas reflexões críticas, Camões revela-se uma voz pedagógica que visa a correção dos erros da pátria.
É ainda de salientar um outro ensinamento de grande importância, veiculado nas reflexões do Poeta, no canto IX de Os Lusíadas. Camões lembra o valor das glórias e das honras quando merecidas e, dirigindo-se a todos aqueles que pretendem alcançar a imortalidade, mostra que o trabalho árduo e a integridade são imprescindíveis para a conquista de grandes feitos. Assim, apela à renúncia do ócio, da cobiça, da ganância e da tirania, e aconselha a atingir a glória através de valores nobres, como a justiça e a lealdade.
Em suma, Luís Vaz de Camões, a quem nunca faltaram “o engenho e a arte”, escreveu sobre temas universais e intemporais, e deixou-nos uma extensa, variada e sublime obra, que é nosso património, tendo alcançado a imortalidade como uma das maiores referências da literatura portuguesa e obtido merecido reconhecimento a nível mundial.
Maria Leonor Silva, 11ºA
Camões, poeta do futuro
Numa mão a pena e noutra a lança,
Camões, orgulhoso da sua pátria,
que com obras sublimes enriquece,
cantá-la vem cheio de esperança.
Bicho da terra tão pequeno canta
uma pátria surda e gloriosa,
que por mais corajosa e gloriosa
os vícios corruptos não espanta.
Inovador se demonstra poeta,
expondo, numa época de cânone,
realidades das suas vivências.
Imprescindíveis são as suas obras,
mas do fracasso se vê pobre vítima
porque quem não sabe arte não na estima.
Beatriz Martins
Luana Fragueiro
Camões, o professor da vida
Tão grande era Camões,
O príncipe dos poetas,
Tão boas eram as suas lições
Que de valores estavam repletas!
Tão importante era o amor que
Na lírica camoniana era abundante;
Tão bom era sentir o seu ardor,
Mas a dor que provocava era gritante!
Tão grandioso era este escritor,
Um homem renascentista!
Ensinou-nos que o trabalho e o esforço
São necessários para a conquista.
No nosso povo incutiu que
Quem não sabe arte não ‘na estima’.
Grandes feitos reproduziu,
Utilizando a sua rima.
Nos seus versos interpretamos
Que valores como o egoísmo nos consomem;
O poder do vil metal e dos vícios mundanos
São princípios que nos corrompem.
Pequenos somos face à Natureza,
Perigos espreitam por todos os lados,
Porém podemos ser imortalizados
Devido à grandeza das nossas proezas.
Mikhael Shaboo
Pedro Guimarães
Tomás Ferreira
Camões e as suas doutrinas
As armas e os barões assinalados,
Assim começava mais uma história,
Por mares nunca antes navegados,
Que para os portugueses ficou na memória.
Para muitos o maior de Portugal,
Camões, o nosso poeta soldado,
A sua escrita permanece atual,
O herói que por momentos foi desprezado.
Com toda a sua gentileza e convicção,
Várias mulheres teve o privilégio de conhecer,
Acabou retido na sua pior ilusão,
O amor, um fogo que arde sem se ver.
Em ‘Os Lusíadas’ o povo lusitano enalteceu,
Pela sua bravura e coragem,
Que nem perante o Adamastor tremeu,
E resistiu a todos os perigos da viagem.
Cansado de gente surda e endurecida,
Sobre a vertente antiépica decidiu refletir.
Desanimado, após a sua vida sofrida,
Às ninfas ajuda decidiu pedir.
Além do desprezo pela cultura,
O vil metal várias amizades corrompeu,
A cobiça e a tirania da altura,
Presente num povo que tanto lutou e sofreu.
No Canto IX o esforço apreciou,
Tal como o sofrimento e a conquista da imortalidade.
Mas tal como Camões nos ensinou,
Um herói define-se pela justiça e lealdade.
Assim nasceu esta epopeia
De um poeta soldado e bom conselheiro
A sua diferença perante a ‘Eneida’ e ‘Odisseia’
É que o seu herói é real e verdadeiro.
Miguel Ferreira
Tomás Linhares