A Sá Couto – Passado, Presente e Futuro
Antes de mais, uma nota de apresentação: sou Francisco Guimarães, professor de EMRC, 62 anos de idade e mais de 38 de serviço docente. Leciono desde 1982 na Escola Sá Couto, hoje integrada no Agrupamento Dr. Manuel Laranjeira.
No atual edifício, trabalho desde o ano em que foi “inaugurado”: ano letivo 1983-1984. Antes funcionava num velho e elegante imóvel, entretanto demolido para dar espaço a outras construções. Visitei-o pela primeira vez ao acompanhar uma Turma, com a missão de plantar uma árvore que ainda hoje lá está, junto ao Bloco B (sala 5 ou 6).
Quando começou a funcionar, tudo era novo, extremamente agradável, muito funcional. Vínhamos de um edifício velho e degradado. Ao longo dos anos, foram feitos bastantes melhoramentos, redefiniram-se e afetaram-se espaços e serviços a missões diversas: coberturas, escadas e pavimentos exteriores, bufete, refeitório e cozinha; readaptação de salas (dos antigos Trabalhos Manuais e de Música, para laboratórios, salas de informática e para a atual Educação Inclusiva – Centros de Autismo e Multideficiência; mudou-se a sala da direção, a biblioteca e a sala de professores, entre outras que os tempos, os currículos e a degradação do tempo foram exigindo.
Mas sempre permaneceram os amplos espaços ao ar livre para a prática de desportos e para retemperar forças nos intervalos. Com muito verde, muita luz, largos horizontes. Sobretudo com uma boa moldura humana: alunos, professores e assistentes operacionais. Sem preterir a importância de nenhum dos outros, uma palavra especial para estes. Cuidadosos no trato, prestabilíssimos, corteses, cumpridores, eficientes e simpáticos com os professores, mas sobretudo dedicados aos alunos: conhecem-nos pelo nome, as famílias, os horários, os problemas São autênticos cuidadores do humano. É desta gente que também se faz a escola. É isto que a faz valer.
A localização da escola também é muito adequada: junto à Academia de Música de Espinho e da Piscina Municipal, próxima da cidade, com suficiente distância, com bons acessos. Claro que nem tudo é (ou ficou) assim tão bom. Os paradigmas educativos são diversos do tempo em que foi pensado e construído o edifício. Tipicamente nórdico, foi concebido para locais de pouca luz (tem amplas janelas) e muita interligação (todas as salas comunicam umas com as outras e têm, quase todas, quatro portas). Hoje, para além de alguma degradação na estrutura, isolamentos e revestimentos, o recurso aos audiovisuais é problemático, assim como o uso do quadro, pelo que os estores têm de estar frequentemente fechados e há que nos socorrermos da luz artificial. Às vezes chove nas salas, o vento e a chuva intensos incomodam, assim como o calor, quando aperta.
Agora está em profunda remodelação. Bom sinal, à partida. Mas estou apreensivo. Estou a ver nascer “muito betão”. Temo pela perda dos verdes e do ar dos espaços abertos. Temo o “nascimento” de espaços cinzentos, “opressivos”, limitadores de horizontes distantes. Temo os “confinamentos” de alvenaria, que nos apertam tanto como uma qualquer pandemia.
As obras, obviamente, trazem constrangimentos. Muitos espaços vedados, maiores dificuldades de circulação (agravadas com as regras impostas pela luta contra a pandemia), menos espaço para brincar e muito ruído das máquinas: martelos, gruas, martelos pneumáticos, betoneiras… Tudo a incomodar e a alterar um ambiente de serenidade propício à aprendizagem.
Mas tenhamos esperança! Cimentada no capital humano da Sá Couto, que ajuda a vencer estas contrariedades, certamente teremos mais escola e melhor escola: mais inclusiva, mais humanista, mais formadora, mais potencializadora de competências. Com todos os outros alunos, professores e assistentes operacionais das restantes escolas do Agrupamento.
1 de março de 2021