jornal plural do agrupamento de escolas dr. manuel laranjeira

49 anos depois …

A importância de recordar Abril de 74

 

     Os últimos meses, na sede do Agrupamento, têm sido marcados por projetos que visam recordar um dos piores períodos da nossa História. A ditadura salazarista, derrubada pelo 25 de abril de 1974, é símbolo dos regimes ditatoriais que marcaram e fizeram definhar o século XX.

     Um dos maiores testemunhos de um regime opressor é o legado que é deixado na arte, expressão fiel de sentimentos e do tempo que o artista vive. Assim, o projeto ‘Abril Canta’, promovido pelos alunos de Ciência Política das turmas D e F do 12º ano, além de ter divulgado músicas deste período, expôs trabalhos alusivos a este tempo. Quem os leu certamente reconheceu a carga metafórica e simbólica de cada verso escrito pelos poetas da época, que estavam sujeitos ao terrível Lápis Azul.

     A música “Eu vou ser como a toupeira” de Zeca Afonso é um bom exemplo para as figuras de estilo que substituíam aquilo que não podia ser dito. A letra parte do exemplo da toupeira que, no escuro, “conspira” e esburaca, fora da vista, mas sempre a trabalhar, simbolizando aqueles que tinham de se esconder para lutar pela sua liberdade. Estes eram oprimidos pelo Estado, representado pela hidra, uma criatura com uma conotação maligna, que sujeitava todos à sua vontade e a sacrifícios que levavam à miséria. A hidra, um animal aquático, não deixa de atormentar os outros, mesmo em período de seca, tal como o Estado Novo que, mesmo vendo o seu regime a desmoronar-se pela guerra colonial e pelo cansaço da opressão, continuava a reprimir o povo.

     Podemos concluir que a música teve um grande papel na luta contra a repressão, até porque a nossa revolução estará sempre associada a “E Depois do Adeus” e a “Grândola Vila Morena”, os códigos que a despoletaram através da rádio.

     Não foi só esta forma de arte que deixou a sua marca para a posterioridade. Também podíamos falar da poesia, como a bela “Trova do vento que passa” de Manuel Alegre ou a “Queixa das Almas Censuradas” de Natália Correia. Felizmente, temos o privilégio de viver num mundo em que temos acesso a estes testemunhos de gente corajosa, que, no silêncio, foi capaz de se manifestar e deixar registado para o futuro o que é “viver sem voz”.

Mas será que se presta a devida atenção aos vestígios que a História deixou?

     No âmbito da disciplina de Ciência Política, assistimos ao filme “A Onda”, de Dennis Gansel. A certo ponto do filme, a personagem Rainer Wenger, um professor, dirige-se aos seus alunos com a questão: “Vocês acham que não é possível haver uma ditadura atualmente?”. O filme podia ter terminado aqui, porque, infelizmente, o que assisti a seguir não mudou em nada a minha resposta: um espontâneo “sim”.

     O ser humano parece gostar de cometer erros e nem sempre presta atenção àquilo que já foi feito e lhe foi deixado. Por isso, sim, não seria difícil, numa certa conjuntura, surgir uma nova ditadura. Tudo começa com uma crise económica (inflação, desemprego, descidas salariais), o que leva ao descontentamento e a uma consequente crise social. As questões e dúvidas começam a aparecer e, neste contexto, surgirá, facilmente, alguém cheio de promessas de uma nova ordem. É neste limiar de descontentamento e desespero que vemos surgir um Mussolini, um Hitler ou um Salazar e nos esquecemos do valor da liberdade. É triste não percebermos este ciclo, que se vai arrastando pela História!

     Sei que os jovens da minha geração não se interessam pela política. Consideram que “isso é para adultos”, sem se lembrarem de que os próximos adultos somos nós.

     Concluindo, infelizmente, o Mundo caminha para um aumento de regimes ditatoriais, segundo documenta a ONG House of Freedom. É por isso que iniciativas como as que a escola desenvolve para incentivar a conhecer a História devem ter ainda mais visibilidade e adesão.

Bárbara Silva, aluna do 12º F
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